domingo, 28 de novembro de 2010

Paralelamente...

2 carrinhos estão em processo com o espetáculo PARA SEXTA-FEIRA que estréia agora na terça, 30 de novembro no Teatro Barracão da Faculdade de Artes do Paraná.

Durante as pesquisas me deparei com algumas palavras do encenador Gerald Thomas sobre Samuel Beckett, palavras que cabem perfeitamente no processo de PARA SEXTA-FEIRA:

"Não existe (nem em Happy Days ou em Fim de Jogo) uma intenção de jogar a criatura humana dentro do seu erro mais brutal: o de questionar suas existências. Ao contrário, as criaturas estão todas lá. O que falta é sempre algo que viria de fora, um Godot que não aparece nunca, um vento que promete, mas nem brisa vem, um cão amigo que nunca chega para guiar seu dono cego.
Os personagens são vítimas, assim como nós, na plateia, somos vítimas do destino ou de “algo maior” que nos rege. Samuel Beckett é um autor mágico que usou 80 mil referências e, no entanto, aboliu, deletou, apagou as preposições que as uniriam. Então somos vítimas de referências que precisam de referências, e isso torna tudo um enorme exercício de metalinguagem.
Por que montar Beckett então?

Porque ele reflete nossa lúcida instabilidade e vulnerabilidade como nenhum outro autor.

A obra de Beckett é, antes de mais nada, lúcida, superlúcida e nem um pouco absurda.

Ela nos revela nossas eternas repetições e rodas e redemoinhos do pensamento que vêm a ser nossas vidas. Beckett expõe, como se fossem feridas abertas, o quão ridículo, estranho e engraçadíssimo todo esse tormento pode ser.
Mas o fato é que, se perguntarmos “por que montar suas peças”, a resposta é mais que evidente: ele é a própria representação do nosso espelho quebrado, despedaçado num canto escuro qualquer dessa nossa vida estranha com seus murmúrios e grunhidos, do berço até o túmulo."

Gerald Thomas

Nova York, 10 de setembro 2010


"Desta vez, depois uma, eu penso, depois estará terminado penso, com aquele mundo também. É o sentido do penúltimo. Tudo se esfuma. Mais um pouco e você fica cego. Está na cabeça. Ela não funciona mais, ela diz EU NÃO FUNCIONO MAIS. Você fica mudo também e os ruídos enfraquecem. Mal se atravessa o limiar é assim. É a cabeça que deve estar cheia."
[fragmento da peça Aporias - baseada em obras de Samuel Beckett]

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