segunda-feira, 5 de novembro de 2012

sobre entender o lugar das coisas.

eu fui assistir o show achando que era pra você.
mas aquele show foi pra mim.

com toda a suavidade e a calma daquele experiente senhor no palco.
eu quase não acreditei quando ouvi ele cantar.

não parece fazer sentido. eu tinha certeza que era um show pra você.
afinal, era você o fã cabeludo que tocava todas as músicas no violão e que me fez gostar de verdade de música. daquela música. da sua música.

mas a catarse desse show foi entender onde as peças se encaixam.
o lugar exato de cada uma delas.

você, fica no passado. e, se possível, no Instituto Lacuna.
sim, eu ainda esqueceria se pudesse escolher essa alternativa.
esse foi o show em que você deixou de ser covarde, e foi o show em que tudo fez sentido.
Obrigada, Robert Plant, por colocar todas as peças no lugar.
agora eu consigo partir pro próximo quebra cabeças.





sábado, 27 de outubro de 2012

desabafo

Ontem eu vi um filme sobre a gente.
e doeu.
era um filme adolescente igual todo mundo diz que a nossa arte é.
era um filme sobre amizade.
era um filme sobre se sentir especial com os amigos.
era um filme que dizia que tem gente que esquece como é ter 16 anos quando se faz 17 e se questiona porque a gente não pode salvar ninguém.
bom, eu não te conheci quando tinha 16, mas eu sei que você também não esqueceu como é isso. como eu sei que também não esqueceu de como é ter 21.
e a gente sempre soube que não se pode salvar ninguém.
nem quem a gente ama. principalmente.
e a gente continua ouvindo as mesmas músicas e tendo catarses diferentes.
e a gente continua se vestindo igual, ao contrário ou parecido.
e a gente continua compartilhando as bads mesmo sem se falar.
a gente não precisa se julgar.
com o mínimo de esforço a gente se entende.
seu abraço é bom e eu gosto de te ter comigo.
eu sinto falta de conversar com você todos os dias. sobre a aula, sobre a vida e sobre nada.
eu sinto falta de dividir com você as bads do final de semana. e os bons drinks.
eu não acredito mais em finais felizes mas eu não queria que a gente tivesse um final.
tá um caos lá fora e aqui dentro e eu queria dividir isso com você.
ainda bem que você veio dividir isso comigo.
seu abraço é bom e eu gosto de te ter comigo.
obrigada por me fazer sentir especial.
eu cansei de me sentir invisível.



quinta-feira, 6 de setembro de 2012

one of my turns

eu queria que tudo ficasse bem
eu queria acreditar nas pessoas e realmente acreditar que tudo vai ficar bem.
eu queria acreditar nas pessoas.

eu queria que todo amor que eu sinto fosse suficiente,
mas eu sempre disse que só amor não basta e continuo acreditando nisso.

eu queria não precisar de pessoas.
eu queria não ter esses fantasmas me atormentando o tempo todo lembrando que nada é pra sempre
e que tudo é muito frágil.
eu queria não lembrar de você.
eu queria não pensar nessa sensação que você deixou.
eu queria não ter essa sensação o tempo todo.

eu queria ter controle.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Disorder

Control
não sei dizer o que veio primeiro em mim, esse Control ou a Ânsia, Calma e Controle.
Enfim, vivo entre Disorder e Control
uma bipolaridade genética e sem fim, ou com o fim já previsto.
Joy Division tem essa energia pueril que é subentendida por esses Carrinhos desde o principio; vivida, compartilhada.
Envelhecemos mas o Ian não, ele sempre será essa voz nostálgica de nossas vozes internas, quando novamente perdemos o controle.


Who is right, who can tell, and who gives a damn right now
Until the spirit new sensation takes hold, then you know
Until the spirit new sensation takes hold, then you know
Until the spirit new sensation takes hold, then you know
I've got the spirit, but lose the feeling
I've got the spirit, but lose the feeling
Feeling, feeling, feeling, feeling, feeling, feeling, feeling

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Strength Through Music


"Who Killed Amanda Palmer" Video Series - Part 6: Strength Through Music from Amanda Palmer on Vimeo.

Para quem não viu o espetáculo Plano Para Não Carregar Mais Cestas, esta musica do album Who Killed Amanda Palmer foi parte essencial do trabalho, o video não ficou muito diferente do espetáculo!

Nostalgia no carrinho!

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

nada me assusta mais do que essas crises de realidade.
crises que me fazem perceber mais e mais profundamente o quanto eu me engano diariamente.
queria ter a força e a coragem para partir de uma vez.
Não há amor que me prenda por aqui, nada faz sentido.
é um alivio saber que você nunca le, nunca le, nunca le.
nunca lerá
que você não presta atenção e mim e que obviamente eu não sou importante.
Nem você mais diz isso.
Se eu não for covarde eu não vou.
Se eu não for covarde eu não vejo, se eu não for fraca pelos meus desejos eu consigo sair daqui.
Eu não aguento mais me enganar, não aguento mais ter esperanças de que vai dar certo, nada que eu faça vai mudar você, e nem está certo querer mudar você, mas eu não vou me adaptar, eu não preciso de adaptação, eu preciso de realidade.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Por isso...

O livro ainda não acabou mas algumas coisas não precisam chegar até o final para sabermos onde vai dar.
"só os burros me acham inteligente" diz Lemony/Daniel/Min e essa é uma verdade  cíclica.
Nada que a gente faça nos impede de chegar  onde vamos.
"she is not me" e este é o trunfo! ela, não sou eu. é alguém mais apropriada, mais interessante, menos entediante que essa intimidade que só aumenta, só nos sufoca, só nos acaba.
"e aguentar mais 10 minutos antes de você me tirar da sua vida" os 10 minutos já acabaram, eu não estou mais aí, não há nostalgia que nos una mais uma vez. 
E aqui vamos nós novamente; Love will tear us apart - again.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Ânsia, Calma e Controle.

talvez pelo excesso de ansiedade,
talvez por não haver mais calma,
talvez por não ter mais controle.

mais cacos.
mais texto.
mais música.
um sentimento que agora não se sabe explicar.
uma dor.

e a última apresentação do solo de Daiane Rafaela, Ânsia, Calma e Controle.                                                        
Dia 24/07/2012                                                                    
às 20h
R$ 3,00 (valor sugerido)
Casa Selvática: Rua Nunes Machado, 950 - Rebouças.


mais informações em
colombiadeferias.wordpress.com

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Eu Que Não Sou Aí Onde Estou



Video do Espetáculo EU QUE NÃO SOU AÍ ONDE ESTOU apresentado no no Terminal SITES de Curitiba, nos dias 02, 03 e 04 de dezembro de 2011.

Performers: Akio Garmatter, Daiane Rafaela, Maíra Godoy e Gabriel Machado.
Texto e direção: Semy Monastier
apoio: Selvática Ações Artísticas e Leiteria Studio.

Uma realização Coletivo Eu Também Quero Um Carrinho de Mercado

quinta-feira, 5 de julho de 2012

carrinhos na selva!



Colômbia de Férias inicia a programação do segundo semestre da Casa Selvática- Centro Artístico Revolucionário com um ciclo intenso, quase sem respiro. Durante estes dias a Casa rosada na Nunes Machado será preenchida com oficinas, festividades, debates, ações cênicas e uma mostra de filmes. Ações desenvolvidas pelxs artistas residentes da casa e convidadxs.
Serão 09 dias de uma programação festiva com os leões a solta. Entre oficina, cenas e filmes o bar Selvático é aberto onde é possível bebericar algo antes, durante e depois das atividades.
Vem pra Selvatica com os carrinhos!!! 
http://colombiadeferias.wordpress.com/


quarta-feira, 20 de junho de 2012


E agora aqui, o que agora aqui, um enorme segundo, como no Paraíso, e a mente devagar, devagar, quase pára. E ainda muda, alguma coisa esta mudando, só pode ser a cabeça, devagar na cabeça a boneca de pano esta apodrecendo, talvez nós estejamos em uma cabeça, está escuro como em uma cabeça antes que os vermes cheguem nela. As palavras também, devagar, devagar, o sujeito morre antes de virar verbo, palavras estão parando também. Melhor fora delas do que quando a vida era balbuciar? É isso, é isso, esse é o lado bom. E a ausência de outros, isso conta por tão pouco?Pah, outros, isso não é nada. Outros nunca são inconvenientes pra ninguém, e deve ter um pouco por aqui também, outros outros, invisíveis, mudos, o que isso importa. É verdade que você se esconde deles, abraçando suas paredes, verdade, você sente falta daquilo aqui, você sente falta dos derivativos, aqui é pura dor, pah, você estava falando sobre isso acima e você esta vivendo uma vida engessada.

terça-feira, 5 de junho de 2012

sobre não ser a garota de ninguém.



Eu tenho pelo menos umas 20 coisas mais importantes pra me preocupar.
eu tenho emails pra conferir e pra responder
eu tenho uma vida inteira pra resolver
amanhã eu preciso lavar o meu cabelo

mas eu estou aqui pensando em alguma forma de superar isso.
que sobrou. que você esqueceu e que ficou guardado aqui e não dá pra queimar como eu fiz com as outras coisas.
um dia ainda vou conseguir dar um nome pra isso.
que não é amor,
que não é saudade,
que o mais próximo que eu consigo chegar é dizer que é um grande "saco de vazio", como todos aqueles textos que você detestava.
eu ainda tenho colapsos nervosos.
eu ainda tenho frio psicológico.
eu ainda escrevo na esperança de que algum dia você leia.
eu ainda me pergunto se por algum segundo no seu dia você pensa em mim.
eu não consigo ser forte o tempo todo e hoje eu desabei.
minha garganta ainda dói como se tivesse inflamada o tempo todo.
eu já voltei a olhar pros lados pra atravessar a rua e já voltei a me importar com a chuva
mas eu ainda me pergunto se por algum segundo no seu dia você pensa em mim.
e sei que trocar a cor ou o corte do meu cabelo não vai fazer a menor diferença
porque eu ainda tremo quando vejo cabeludos passando por mim na rua.
ainda tem músicas que eu não consigo ouvir,
não que adiante ouvir músicas novas, agora todas elas fazem sentido.
eu aprendi com a Sarah Kane a "não guardar souvenirs de assassinatos", mas aquele seu moletom que um dia foi preto e hoje está tão desbotado que não dá nem pra chamar de cinza ainda está no meu armário.
foi a única coisa que sobrou de você.
e eu queria que você se importasse.



quarta-feira, 23 de maio de 2012

Grace Schwindt

Grace Schwindt, born 1979 in Germany is an artist based in London, mainly working with video and film. She has completed an MA in Fine Art at the Slade School of Fine Art in London. She has shown her work internationally including at the White Columns in NYC, EASTInternational in Norwich, S1 Artspace in Sheffield, UK and the Museum of Modern Art in Ljubljana, Slovenia.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

[Retrato 6]

"É muito duro para mim - eu que devereia ter nascido na década de 1880 me acho meio como um proscrito aqui. Nem mesmo posso usar corretamente uma rosa na lapela. Deveria andar de bengala, como meu pai; ando porém de chapéu de feltro com vinco, mesmo ao caminhar pela Bond Street, e não de cartola. Contudo ainda gosto, se a palavra ainda for adequada, da sociedade, graduada como uma dessas barras de gelo embrulhadas em papel enrugado - na verdade diziam que os italianos as conservavam embaixo da cama em Bethnal Green. Da espirituosidade de Oscar [Wilde]; e da mulher de lábios vermelhos de pé sobre uma pele de tigre num piso escorregadio - com a boca do tigre escancarada. 'Mas ela pinta!' (foi o que disse minha mãe), o que queria naturalmente dizer as mulheres de Piccadilly. Era esse o meu  mundo. Agora qualquer um pinta. Tudo é branco como açúcar, até as casas, na Bond Street, feitas de concreto, com lascas de limalha de aço.
Ao passo que eu gosto de coisas tranquilas; cenas de Veneza; garotas numa ponte; um homem pescando; calma  de domingo; talvez um joguinho. Estou indo agora, já no próximo onibus a motor, para o chá com tia Mabel em Addison Road. A casa dela ainda conserva um pouco disso que eu tenho em mente; o bode, por exemplo, deitado ao sol bem na calçada; o distinto e aristocrático bode velho; e os condutores usando os faisões dos Rothschilds suspensos em seus chicotes, e um jovem como eu sentando-se na caixa ao lado do condutor.
Mas aí vem eles brandindo suas bengalas de freixo em pleno Piccadilly; alguns sem chapéus; todos pintados. E virtuosos; sérios os jovens de hoje em dia são tão desesperados, conduzindo seus carros de corrida para a revolução. Posso lhe garantir que a clematite no Surrey cheira a petróleo. E olhe só lá na esquina; tijolo vermelho-rosa entregando a lama numa lufada de pó. Ninguém a não ser eu liga a mínima - e tio Edwin e tia Mabel. Todos dois levantam sua velinha contra esses horrores; e o mesmo não podemos fazer, nós que caímos e nos espatifamos e arrastamos para cima de nós o velho candelabro. Eu sempre digo que qualquer um pode quebrar um prato; mas o que admiro é a porcelana velha presa com rebites."

Retrato 6 - Virginia Woolf

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Vivências Gravadas

Neste dia 10 de maio inaugura a exposição Vivências Gravadas, que conta com o trabalho de um carrinho!
A gravura "sem título" faz parte de um processo de explorar a performance Transubstanciação em outros meios.


Abertura - dia 10/05, às 20h
A exposição permanece até 30/05.
Galeria Belas Artes - Rua Francisco Torres, 257
Curitiba - PR



quarta-feira, 2 de maio de 2012

Meu manifesto é pelo amor. É por amor. Por mais amor. 
Por mais amores.
É um pedido desesperado por um amor sem amarras e sem limites. Por um amor que vá além dos discursos e das provas. Por um amor que rompa todas as barreiras e seja livre.
EU QUERO PODER AMAR QUEM EU QUISER.
Quantas vezes eu quiser, como, quando e onde eu quiser. 
EU QUERO PODER AMAR QUANTAS PESSOAS EU QUISER sem ser julgada por isso.
Eu quero amar e não precisar ter vergonha de todo esse amor.
Eu respiro amor, eu transpiro amor, eu transbordo amor. E sem esse amor eu não sou nada.
MAIS AMOR, MUNDO. MAIS AMOR!

segunda-feira, 16 de abril de 2012

hey you

ei, escuta...
meu coração ainda funciona, sabia?
tem pedaços dele por todos os lados, mas o que restou insiste em bater.
e no ritmo daquela musica que você não teve coragem de ouvir ao vivo.
por mais que eu insista em dizer que só sobrou a cicatriz, ele ainda me da sinais de vida.
quando ele partiu transbordou todo o amor que eu guardava dentro
e eu ainda escorro amor por todos os poros e continuo sem saber como lidar com isso.
mas não é você que vai cuidar das minhas dores, não é?
todo esse saco de vazio pesa só pra mim.

e no fim da historia quem sobreviveu fui eu.



sexta-feira, 23 de março de 2012

Carrinhos recomendam

AS TETAS DE TIRÉSIAS






manifesto anti-biologico gritado por ventriloquos.De 29/03 a 02/04- Coletivo de Pequenos Conteúdos

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Tem Bububu no Bobobó


Carrinhos estarão estacionados na Sede da Selvática Ações Artísticas e convidam:

Festa de Abertura da Casa Selvática Dia 04 de março, 12h:
almoço (valor R$ 15,00), venda antecipada até dia 01 de março pelo telefones: (41) 96115910, ,98259022, 99141559 e 84100193
15h: Festa performática - gratuita
Endereço: Rua Nunes Machado, 950 Rebouças Programação Completa e cardápio de almoço disponível em: www.selvaticaacoesartisticas.wordpress.com




“É do coração petrificado da gélida Curitiba que retumbam nossas utopias, e é em busca delas que arriscamos nossas entranhas”.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A política como lugar

Ocupar não é o mesmo que demonstrar. Muitos dos protestos do ano passado - Praça Tahrir, os indignados, Ocupe Wall Street (OWS) e outros - deixam nítido o fato de que ocupar significa estabelecer um novo território. Transformar o que era visto meramente como um espaço num território. Nesse processo, ocupar também cria um pouco de história.


Para pesquisadora, manifestantes do OWS fazem história ao transformar o que era mero espaço público

Território é um vetor estratégico em todos esses tão diversos processos de ocupação. No sentido em que estou usando o termo, território é uma condição complexa na qual se insere a lógica do poder e da reivindicação, algo que implica muito trabalho para criar e não pode ser reduzido apenas à factibilidade elementar do espaço ou da terra. Assim, ocupar é um processo que reelabora, mesmo temporariamente, a frequentemente antidemocrática lógica do poder incrustada no território. E com frequência também redefine o papel dos cidadãos, na maior parte debilitados e fatigados depois de décadas de injustiças e desigualdades crescentes.

Na verdade, as ocupações têm revelado até que ponto a realidade do território vai além de seu significado predominante em todo o século 20: o do território de soberania nacional. Dependendo da região do mundo, durante um século ou mais a complexa categoria que é o território ficou restrita a um único significado: território de soberania nacional.

O movimento Ocupe Wall Street entrou num dos territórios estratégicos das finanças globais e, durante dois meses de trabalho duro e muita deliberação coletiva, estabeleceu um novo território - físico e conceitual - com sua própria lógica de organismo e representação descentralizados. O movimento Ocupe Oakland se inseriu num território estratégico do comércio global em novembro, quando temporariamente fechou o porto da cidade, o quarto maior dos Estados Unidos.

A maneira como a Praça Tahrir foi usada durante a revolução egípcia - o trabalho de erigir um acampamento e mantê-lo habitável e pacífico durante vários meses - da mesma maneira transformou a praça num outro tipo de território. Los Indignados, na Espanha, não realizaram apenas manifestações: eles estabeleceram um acampamento com múltiplas funções.
Os estudantes que ocuparam a Universidade de Porto Rico um ano atrás durante dois meses, cercados pelo Exército, criaram algo parecido a uma sociedade e economia alternativas, cuidando do seu próprio sustento, ensinando várias habilidades um ao outro.

Essas e tantas outras ocupações exigiram trabalho e estratégia. Diria que é um movimento social multilocalizado, criado a partir do cruzamento de um modo político global e das especificidades e história locais. Cada um desses lugares tem a própria genealogia de ações, histórico de violência e libertação e geografia do poder. Mas nesta atual era global algumas condições estruturais estão presentes em mais e mais países: em todos eles observamos o crescimento das desigualdades e a expulsão das jovens gerações da classe média de um projeto de vida de classe média.

No seu início, a criação do território nacional envolveu conquistar autonomia de uma potência dominante - como ocorreu com os Estados Unidos no princípio e também no caso dos movimentos de independência na África e muitas outras lutas em todo o mundo. Esses foram momentos importantes, quando a lógica do poder e da outorga de poder coincidiram numa tentativa de se criar sistemas políticos e socioeconômicos mais igualitários. Como resultado, surgiram governos de certa maneira receptivos às demandas das classes médias emergentes.

Com mais frequência, contudo, essas primeiras lutas para criar território próprio foram frustradas por elites que se apoderaram abusivamente do poder, deixando os cidadãos empobrecidos e sem nenhum direito de representação. Essa decadência não seria apenas interna, contudo. Estabelecer o próprio território também pode levar à colonização dos antigos habitantes do lugar ou, no decorrer do tempo, significou entrar furtivamente no território de outros. O que nos leva de volta às contradições do território nacional: alguns Estados-nação foram criados no rastro de vastas geografias imperiais de exploração e dominação. Num sentido importante, contudo, territórios colonizados são constituídos por meio de uma lógica distinta daquela do território feito nação, que é impulsionado, pelo menos no início, pela lógica da autodeterminação. Hoje, era em que vemos a decadência do Estado liberal, a lógica do poder não coexiste com a lógica da outorga de poder - ela coexiste com o empobrecimento crescente da classe média e a perda dos direitos do cidadão.

A decadência do “projeto nacional” em parte decorre da emergência de vetores territoriais diferentes. Observamos a ascensão de novos agrupamentos de uma miscelânea de território, autoridade e direitos outrora firmemente assentados nas estruturas nacionais. O espaço operacional das empresas globais é um agrupamento de uma miscelânea de múltiplos territórios nacionais. Assim também é a rede das cidades globais. Esses agrupamentos emergentes na maior parte atravessam o binário do “nacional versus global”. Os movimentos “Ocupe” também são agrupamentos emergentes de uma miscelânea de vários territórios nacionais (e globais). Sua reivindicação do espaço público é uma resposta às deficiências cada vez mais palpáveis da lógica do Estado-nação.

Esses movimentos lançaram um processo emergente que considero como da “rua global”, um lugar para se criar o social. Esse modo de formação do público é bem diferente da tradição europeia do espaço público, que é o lugar para implementar práticas que já se tornaram um ritual. O movimento “rua global” liberta o território, como categoria e como capacidade; ele transforma a rua num espaço para reformular o social e o político por aqueles que não têm acesso aos instrumentos de poder estabelecidos dentro dos limites do território de soberania nacional. É por isso que os acampamentos no Cairo, Nova York e em todos os outros locais são um elemento crucial em meio às mudanças mais profundas que estão desestabilizando a territorialização nacional da vida política e social. E é por isso que as tentativas para fazer acampamentos na Síria e no Bahrein são importantes, mesmo se fracassarem.

O espaço mais amplo permitindo essa ocupação em múltiplos lugares é a rede das cidades globais em todo o mundo, cujo número vem aumentando, em parte como resultado das necessidades territoriais maiores do capital global e das finanças globais. E aqui reside uma interessante dialética entre o crescimento das cidades globais e o crescimento dos movimentos de ocupação. A cidade surge como um espaço em que os impotentes podem fazer história; não é o único espaço, mas é um espaço crucial. Seja no Egito, nos Estados Unidos ou qualquer outro lugar, é importante que o objetivo dos ocupantes não seja o de arrebatar o poder.

Inversamente, eles estiveram e estão engajados em trabalhar para a cidadania, expor as falhas e os erros da política e da sociedade. No meu livro Territory, Authority, Rights (Território, Autoridade, Direitos - 2006), abordei essa questão de como os impotentes podem fazer história e, se o conseguirem, como poderão fazer isso sem se tornar necessariamente pessoas com o poder nas mãos. Isso nos mostra que a impotência não é simplesmente uma condição absoluta que pode ser nivelada para se tornar ausência de poder. O fato de as pessoas se tornarem presentes e, importante, se tornarem visíveis umas para as outras, pode alterar a natureza da sua impotência. Com base em certas condições, a impotência pode se tornar algo complexo, e com isso quero dizer que ela pode conter a possibilidade de criar o político, o cívico, ou a história.

A violência com que várias dessas ocupações pacíficas têm sido confrontadas pela polícia e pelos soldados do Exército é indicação de quão ameaçadora é a ocupação. E o quão difícil e desordenado tem sido neutralizar o projeto dos ocupantes nos mostra que o Estado tem que trabalhar para restaurar o território no seu antigo formato e se reinserir na lógica mais antiga.

Saskia Sassen é socióloga da Universidade Colúmbia e autora de Sociologia da Globalização (ARTMED).

** TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO ESTE TEXTO É PARTE DE UM ENSAIO DA AUTORA PARA A REVISTA ARTFORUM

fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,a-politica-como-lugar-,814979,0.htm